Livro Gratuito Para Baixar

 

Em 2009 Clóvis Maia inaugurava um blog de endereço:

https://clovesmaia.blogspot.com/

Em 2018 “Para Mais Tarde” surge como um livro de crônicas, sendo lançado inicialmente nas redes sociais e tendo também a oportunidade de ser lançado no Recife, em Serra Talhada e na Paraíba. Agora você tem acesso ao livro de forma totalmente gratuita. Basta apenas baixar o PDF.

Boa leitura:

Livro “Para Mais Tarde”, de Clóvis Maia gratuito.

#aqueleQuadrinho

          Hinterkind (“Os Desterrados”, no brazil. Vertigo/Panini Comics)

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Resumo:

[Hinterkind, “Os Desterrados”, foi lançada nos EUA em 18 edições, de dezembro de 2013 a julho de 2015. Com roteiros de Ian Edginton, arte de Francesco Trifogli e Cris Peter na pintura. No brazil a obra foi lançada pela Panini em três edições especiais: “O Despertar do Mundo” (junho/2017), “Escrito em Sangue” (fevereiro/2018) e “Região Quente” (Agosto/2018), cada uma contendo seis edições da série original em formato americano, lombada quadrada e com um preço muito acessível- R$23 contos.]

Prefácio:

Uma praga, um vírus, alguma coisa dizimou quase toda a humanidade. No meio dessa situação, a gente descobre que os seres ‘tidos’ como mágicos ou imaginários (fadas, duendes, druidas, gnomos, elfos, sátiros, vampiros, unicórnios, dragões, ogros, centauros- ufa!) são na realidade reais e que estavam escondidos nos subterrâneos, deixando-se acreditar que eram mesmo criações da mente humana. Depois da suposta praga esses seres imaginários retornam para caçar os humanos restantes, brigarem entre si por territórios e riquezas. Esse caos nos é apresentado pelo genial Ian Edginton (que trabalhou, entre outros títulos, em Judge Dredd, X-Force, Stormwatch, além de ter sido indicado ao Eisner duas vezes.

 

 

Bom:

Hinterkind consegue ser original tratando de um tema chamado por muitos como ‘batidos’. Com tanta obra inspirada em Distopias e Cyberpunks, o leitor logo vai relacionar o quadrinho com O Senhor dos Anéis, Game of Thrones e essa ‘túia’ de livros que viraram filme tipo “Divergente”, “Convergente”, “Detergente”, “Jogos Vorazes” ou “Maze Runner”. Mas o detalhe é que o Ian Edginton sabe tecer uma boa história e o roteiro não deixa a desejar:

Prosper Monday é a nossa heroína, junto com Angus, que decide fugir do acampamento onde vivem. Ao fugirem acabam descobrindo aquela realidade que eu já citei antes e se metendo em uma jornada que vai desencadear toda a trama quadrinesca. Segundo dizem, o título não conseguiu ter um bom rendimento. Com as vendas em baixa teve que ser encurtado. Outra versão diz que a obra foi pensada para ser desse tamanho mesmo. Vendas baixas ou não, a crítica meteu o pau na revista do mesmo jeito, mas eu queria ressaltar a habilidade do roteirista em juntar ficção científica, mitologia, sociedades pós-apocalípticas sem perder a mão. Esqueçam quem vier dizer que os personagens não são bem trabalhados e etc. genéricos eles podem até ser. E são. Mas essa é a idéia da trama: mostrar as espécies vivendo depois da devastação.

Ruim:

Por ser tratar de uma obra que teve vida uma vida encurtada (nessa hora, não importa mais os motivos) fica evidente que poderia ter uma seqüência, um aprofundamento em determinados temas, mostrar como vivem determinadas espécies (pois é; ainda cabia) e gastar um pouco mais a trama. Essa coisa de guerra entre elfos e vampiros, todos com metralhadoras e flechas dava um caldo massa. Na moral, dava até pra virar um filme ou uma boa série na Netflix.

Péssimo:

Não sei se por pressa ou por estilo, mas a arte do italiano Francesco Trifogli não consegue agradar. Se você for fazer uma rápida pesquisa sobre o trabalho dele vai ver que tem muita coisa boa. Mas em Hinterkind a impressão que se tem é que ele começa bem cada edição e depois vai ficando feio, preguiçoso, mal feito mesmo. Tem horas que chegam a ser tão ruins ao ponto dele desenhar um mesmo personagem diferente de um quadro a outro. Nota-se claramente que essa tomada não faz parte da trama da obra e não acrescenta em nada. E a pintura do Cris Peter segue a mesma linha. Tem uns quadros que chegam a dar raiva de ruins. Uns traços jogados como um adolescente brincando no Corel. Se você for feito eu, que detesta essas pinturas feitas no computador bizarras vai ficar puto também.

No Geral:

É uma obra no nível da Vertigo. Tem qualidade e tem conteúdo. Uma coisa massa também é que tem o bom e velho começo, meio e fim. Não é feito essas histórias que a gente sabe que vão dar um jeito de trazer o protagonista de volta a vida. Essa vale muito a pena ler.

Um detalhe massa: 

Esse nome da revista é muito chamativo, né não? Até tentei achar uma tradução mais ou menos para o título mas não deu em nada. O mais perto que achei foi do Alemão:

                                              Hinter= Atrás e Kind= Criança

Mas eu não me atrevo não. Se você souber aí me ajuda. E corre pra ler essa revista.

http://soquadrinhos.com/showthread.php?tid=25200

 

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Nossa Cultura é Black, pô!

 

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Custou acreditar quando a minha mãe me disse ao telefone que o MJ havia morrido. E olha que já faz 10 anos. Poxa. Você assiste a um show dele no início dos anos 90 e fica de queixo caído. E ele faz uma enorme falta. Tudo que o cara fazia era sucesso. Perseguido fora dos palcos, tudo que envolvia seu nome era sinônimo de dinheiro. O enterro dele foi algo absurdo e assustador. Quase um mês para enterrar o cara, ingresso pra poder ver o corpo e um show na despedida. Ou seja: o cara fez milhões até depois de morto.

Apesar disso, não há como não lembrar que Michael foi um legítimo representante da música negra mundial. Seja pela dança, seja pelo timbre ou pelos arranjos, a obra de MJ nos brindava com uma das mais refinadas e apuradas black music que já vimos. A falta e a presença desse gigante é presente todo dia.

Fotos que nos Revelam Um Mundo

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6 de Agosto de 1945. E o mundo ainda sente o medo de uma guerra nuclear. A chamada segunda guerra mundial abalou o mundo e deixou rombos, perigos e o receio para que isso não retorne.

“Que mundo construímos? Quem é o inimigo?
Qual é a nossa religião? Não aprendemos a lição?. . . 
A cada vida ceifada por bombas lançadas daqueles que se dizem cristãos!
Não se engane! O que o homem plantar ele também vai colher!
(. . .)
E agora? Como falar de paz?

Como impedir a raiva no coração dos oprimidos?
Como colher a paz onde só plantaram a guerra?
Como experimentar o amor de árvores regadas com o ódio?
Criamos lobos e agora queremos viver com ovelhas?”

(versos da banda Fruto Sagrado)

 

Bom Disco Bom

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    A Doppamina é uma banda atípica. Formada por dois Biólogos e um Engenheiro de Pesca, fazem um autêntico Hardcore com sotaque sertanejo dos mais pesados. Isso mesmo. Os caras fazem Rock com atitude e muita mensagem política, ambientalista, questionadora em uma região que até bem pouco tempo não abria espaço para sons alternativos. Subir no palco da principal festa da cidade e denunciar os desmandos dos políticos locais, sem se preocupar com um futuro convite deixa claro a atitude desses “rapazes”, “meninos”, como são tratados, ou eram, já que praticamente reinventaram a cena underground no Sertão do Pajeú, que tem como expoentes nomes como Rui Grudi e a banda D’gritos.

    Em 2011, cansados de shows escaços e periódicos, os irmãos Paulo (baterista) e Mateus (guitarra e vocal) Bezerra, junto com o amigo Kacique Cândido (baixo) resolveram criar alternativas, eventos, pontos culturais para realizarem shows e também ensaios, encontros e fazer rodar a cena local, tão repleta de bandas mas separadas em seus nichos. E deu certo. A banda foi ganhando forma, começou a fazer suas próprias letras, articular outras bandas para tocarem juntas e terminaram tocando no palco principal da principal festa da cidade, gravaram seu primeiro CD, além de terem tocado em quase todas as regiões do Sertão do estado de Pernambuco.

    Esse primeiro trabalho dos caras é fruto de anos de experiencia e mergulho nesse universo, onde cantam o Cangaço, a vida dos moradores de rua nas grandes cidades, a violência dos agrotóxicos e da ditadura militar no brazil. Aqui segue o link dos caras tocando em stúdio, além dos links pra vocês conhecerem mais o trabalho dos caras.

      E, claro, vida longa ao bom rock e a musica alternativa:

 

O Grande Norte

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    Lançado no Brasil no ano de 1954, o romance “O Grande Norte” surpreende, seja pela densidade da leitura, pela pesquisa realizada pelo autor ao tratar do livro ou as lições incutidas ao longo da obra, condensadas por uma escrita primorosa. Não por acaso, o autor, Tikhón Siomúchkin recebeu o prêmio Stálin de Literatura no ano de 1949, maior prêmio de literatura na URSS.

    O livro foi lançado no Brasil como 4º volume da coleção Romances do Povo, sob supervisão de Jorge Amado, pela Editora Vitória e foi responsável por popularizar a leitura dos chamados romances socialistas bem como a formação de gerações de leitores ainda hoje, haja vista a procura pelos exemplares seja na internet ou nos sebos por todo o país.

     A Editora Vitória foi fundada em 1944 pelo PCB e lançou cerca de 30 romances de cunho socialista e humanista, bem diferente do que estava sendo lançado e produzido na época pelos chamados “Cânones literários”, ou seja, os autores que a imprensa burguesa aclama como bom de ser lido ou não. A Editora Vitória lançou outras obras de cunho político também, tendo encerrado suas atividades por força do golpe de 1964 que proibiu seu funcionamento.

 

Respeito a Realidade Social Local.

 

    O Romance se passa nas regiões geladas da URSS, próximas ao Polo Norte. Tikhón Siomúchkin viveu na região, pesquisou e viveu com os moradores da região, o que lhe motivou a escrever seu histórico romance. Histórico, pois relata um processo real, fruto das modificações sociais e políticas na Rússia após a revolução de Outubro de 1917.

    Os Chukchis eram povos nômades, nativos da Sibéria, presentes no mar de Bering, oceano Ártico. Viviam em Yarangas, tendas feitas de madeira e peles de renas, e tinham como principal atividade econômica e de subsistência a caça, a criação de renas ou a pesca de animais marinhos como a morsa, além do comércio com os estrangeiros. Comércio esse pautado no escambo troca de víveres por peles de renas.

    Divididos em dois grupos: os da Tundra (vegetação típica das regiões frias), que criavam e comercializavam as peles da rena e os do Litoral, pescadores, e com uma variedade de línguas e dialetos (chukoto, yakut, lamut, yukaghir, entre outras) os povos Chukchis possuíam uma forte tradição secular, costumes bem firmados ao longo de séculos de vivência nas regiões geladas da Rússia czarista, tanto que os Czares, apesar de tentarem não foram capazes de dominar tal povo, isso dês do século XVIII, sendo obrigados a estabelecerem relações comerciais com os mesmos.

   Essa relação comercial, pautada na exploração, extorsão e roubo do trabalho dos nativos bem como o descaso por parte das autoridades russas e a separação social, gerada ora pela questão geográfica, pelo nomadismo local ou por certa autonomia cultural do restante da Rússia gerou todo um atraso social em relação ao resto do mundo, além de um claro deslocamento, um isolamento por parte do povo Chukchis do restante do mundo. Dito de outra forma, a base social nativa era mergulhada num primitivismo profundo.

   Guiados por um Xamã, os Chukchis acreditavam ter a natureza diversas divindades, espíritos e todo o tipo de superstição com relação ao templo, clima ou acontecimento dia a dia, ou era comum os homens entregarem suas mulheres (que deveriam ser totalmente submissas aos maridos e aos trabalhos domésticos, cuidado dos cães puxadores de trenó, alimentação e trato dos filhos) a seus amigos e vizinhos como um tipo de empréstimo, ou no meio de uma negociação entre ambos. Diante dessa fatídica realidade, mostrada detalhadamente e pormenorizada por Siomúchkin, que O Grande Norte se alicerça, para mostrar.

 

 Um Rico Enredo Literário

 

     No início da década de 20 a URSS estende seu novo governo, leis e costumes para as regiões mais afastadas do centro nervoso, Moscou. No romance, dois jovens bolcheviques, Nikita Serguéievitch (chamado também de Loss) e Zhúkov, do Exército Vermelho e outro do Konsomol, respectivamente, chegam até a região com a missão de instalar um Comitê Soviético local, instruir a população sobre as mudanças relativas ao novo governo socialista, a derrubada do Czar e a implantação do novo regime social, leis e etc.

    Loss, o líder Bolchevique, tem que enfrentar as dificuldades da língua, o frio intenso, a superstição e desconfiança local, além da falta de comunicação, a distância familiar e de sua direção, além dos mercadores e contrabandistas, como a personagem Mrs Thompson, que além de dominar o comércio local, habitava havia décadas na região, casado com uma nativa, apoderando-se dos costumes locais com a intenção de enriquecer e lucrar à custa da alienação do povo Chukchis, mergulhados na interpretação e veneração do estrangeiro como desenvolvido e sábio, ou seja, a velha ótica e lógica do dominador e do dominado.

   Os dois bolcheviques se veem tendo que criar meios e métodos para enfrentar as adversidades locais, expulsarem os contrabandistas estrangeiros, ensinar as novas leis para os locais e implantar a nova realidade socialista que ainda não havia chegado por aquela região. Uma lição de superação, de força e exemplo coletivo. Um livro raro, obviamente pouco divulgado e falado e um romance denso, profundo e completo, que não perde em nada para os chamados grandes clássicos mundiais.

    Durante toda a obra podemos conhecer os costumes locais, a história dos Chukchis, suas dificuldades em relação aos contrabandistas e como os Bolcheviques fizeram para iniciar as modificações necessárias no local. Detalhe: não pense que essas mudanças significaram mudar a língua, as tradições, impor qualquer modificação para os locais, derrubando seus costumes e etc. Detentores das novas diretrizes, os dois protagonistas fazem de tudo para erguer e fortalecer a cultura local. Criam uma escola, um hospital, e outros direitos antes roubados pelos estrangeiros sobre a tutela do Czar.

   Sem dúvida uma leitura muito rica. Dá pra comparar tranquilamente com outros títulos como Moby Dick, por exemplo.

Marielle Franco: Um assassinato Classista

  charge Latuff

     Lênin, principal pensador, dirigente e estrategista da Revolução Russa de 1917, foi categórico ao definir o estado como um aparelho especial para a aplicação sistemática da violência e para a submissão dos homens pela violência.[1] Estado e violência. Eis dois temas tão fortes e que, ao mesmo tempo, não se separam. A divisão em classes, o surgimento da propriedade privada e a forma como a classe dominante usou e abusou desse aparelho para reprimir os menos favorecidos tem (e deve) estar bem claro em nossa mente, sobretudo em épocas tão terríveis. A conquista do voto, o direito conquistado da democracia, mesmo que nos moldes burgueses, é, para aqueles que lutam contra esse estado de coisas, algo a ser, há seu tempo e modo, defendido.

     O estado democrático de direito existe, foi uma conquista nossa e deve ser defendido. O problema é que sabemos a quem beneficia esse estado. Longe de achar que o estado está acima das classes, coloca-se neutro diante das mais sensíveis demandas erguidas pela sociedade ou mesmo que é uma obra divina deve ser repensado. Seria o maior dos erros esperar imparcialidade no assunto do estado, nos assegurou Lênin em sua conferência.

       Violência. É essa a linguagem desse estado e é assim que ele resolve seus entraves. Em obras como O Estado e a Revolução, o genial líder bolchevique aponta tas observações sobre esse aparelho e nos adverte para não termos nenhum tipo de ilusão acerca desse ente. Digo isso justamente por que é impossível, ao nos reportarmos ao assassinato brutal da companheira Marielle Franco, fazendo ao mesmo tempo o comparativo com os 50 anos de outro assassinato brutal também ocorrido no Rio: o assassinato do jovem estudante secundarista Edson Luís. A história repete-se como farsa. E na cara dura.

     Uma charge do Cartunista Latuff sintetiza bem o motivo desse assassinato, essa queima de arquivo: nomeada relatora da comissão para acompanhar a ‘intervenção’ no Rio dia 28 de Fevereiro último, as denúncias acerca da violência perpetrada pela PM nas favelas, inclusive a dela, denunciada por ela dia 10 de março, são resquícios de que a queriam morta, exterminada. Silenciada. Não deu certo. Ver o tamanho da mobilização que seu exemplo suscitou foi algo renovador. Marielle torna-se semente para outras ações de denuncia e em defesa dos direitos humanos em nosso tão fatigado país.

 

escadaria Marielle Franco em SP

 

 

[1] “Sobre o Estado”, conferência proferida na universidade Sverdlov, julho de 1919.