“Não é Uma Partida de Futebol”…

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Recentemente a mídia noticiou a busca pela música da Copa de 2014. Interessante notar como a cultura, de um modo geral, mais uma vez, é manipulada em benefício das grandes mídias e corporações. Em 2002 a canção “Deixa a Vida me Levar”, de Serginho Meriti, foi escolhida como a música da Copa da Coréia/Japão após os jogadores da seleção serem vistos cantarolando a canção e as rádios divulgarem massivamente a música. Outro grande sucesso quando se fala em futebol foi lançado em 96: “É Uma Partida de Futebol”, de Nando Reis e Samuel Rosa, foi eleita um dos hits da copa de 98 além de receber diversos prêmios.

E o que tem por traz de toda essa mídia? As duas músicas foram lançadas pelas duas maiores gravadoras do mundo, a Sony Music, segundo maior grupo de gravadoras do mundo, patrocinadora das Copas do Mundo da FIFA e que vai dirigir e lucrar com todos os shows durante o evento no Brasil. Outra multinacional milionária é a Universal Music, maior gravadora do mundo, envolvida em escândalos e processos como suborno em estações de rádio, o chamado “Jabá” (o pagamento as rádios para divulgar seus artista e suas músicas), abusar dos direitos autorais e a perseguição a sites de compartilhamento de conteúdos como o Megaupload em 2012, a remoção de vídeos do Youtube, numa tentativa de dizer o que se pode ou não ser ouvido.

Do mesmo modo que tentaram transformar o futebol em um grande comércio a nossa música também sofreu inúmeros golpes no capitalismo, a exemplo de Taiguara, cantor mais censurado durante a ditadura no Brasil (64-85) que sofreu um processo de apagamento de toda sua obra perante a mídia ou Victor Jara, um dos maiores artistas da música na América Latina, assassinado pela ditadura de Pinochet em 1973 no Chile. No Brasil a copa do mundo vai tentar “amenizar” os males causados pela exploração nossa de cada dia, e essas músicas, amplamente divulgadas durante a Copa serviram, como na Copa do México de 70 com a música “Pra Frente Brasil”, que além de propagar o regime, escondeu o auge da repressão do governo Médici.

Essa Copa merece duas músicas de nosso cancioneiro popular esquecida pela grande mídia, de autoria de um de nossos maiores compositores: Gonzaguinha. A primeira, gravada por ele em 1978, do disco “Recado”, intitulada “E por Falar no Rei Pelé”, tece uma profunda crítica a situação do brasileiro no dia a dia do país do Futebol:

 

 

 

“Craque mesmo é o povo brasileiro/corre o campo, se esforça o tempo inteiro/ carregando esse time de terceira divisão/nesse jogo sem gol/ (…) Craque mesmo é o povo brasileiro/
com os “homi” em cima na marcação” (…)

 

A segunda, do ano de 1979, gravada pelo grupo MPB4, chamada “Se o meu Time não Fosse Campeão” é outra crítica a maneira como o futebol é utilizado para alienar a grande população:

 

“E ele gritou gol, fiel à paixão/
Salve o meu time querido, do meu coração!” /
Botou um sorriso na fome e se mandou pro bar/
Esqueceu o cansaço da luta e foi lá bebemorar/ (…)

“Nem ligo se tô atrasado no meu aluguel/
E daí se aliança da nega tá lá no penhor?/
Por mim, que se dane o gringo, o banco e o papel/
Tem birita de sobra no copo, acabou minha dor…”

 

Coincidentemente as duas gravadoras que lançaram essas duas músicas (EMI-Odeon e Polygram) foram compradas pelas multinacionais Sony e Universal Music, que não divulgam tais canções.

Apesar do que tenta expor a mídia, seja pela sua ideologia espalhada por meio de nossa cultura ou pela tentativa de manipular nossos sentimentos, o povo brasileiro não tem deixado se enganar pela propaganda de que a Copa do mundo vai mudar tudo que está errado em nosso país e tem novamente tomado às ruas, deixando claro que não iremos deixar a vida nos levar e que ela, definitivamente, não é uma partida de futebol.

 

 

 

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