A Arte Política de Picasso

a arte não deve servir apenas para se contemplar!

Picasso diante de uma foto de J. Stálin, sucessor de Lênin na URSS

Pablo Picasso, pintor espanhol, nasceu em 25 de outubro de 1881, em Málaga, vindo a falecer em Mougins, na França, no ano de 1973, completando, portanto, 40 anos de seu falecimento em 2013. Tido como um dos maiores artistas de sua época, a vida do artista chama atenção tanto quanto a sua vasta obra, que vai além da pintura. Uma das características que se diluiu com a divisão acadêmica de sua obra em períodos foi seu engajamento político.  Comunista, pertenceu ao partido comunista até o final de sua vida e ousou defender uma arte crítica, ligada aos problemas do dia a dia e da sociedade. Recusou-se a ir a 1º guerra mundial e foi um feroz inimigo da guerra civil espanhola, e das barbáries cometidas pelo Nazismo durante a 2º guerra mundial.

Eis alguns quadros que reforçam essa sua postura:

um dos quadros mais polêmicos e políticos da história

Guernica: Crítica Social por meio da arte

1)     “Guernica”: tido como um “quadro-manifesto”, Guernica traz até hoje o debate sobre o papel da arte e sua colocação na história. O quadro, de 1937, é uma profunda crítica ao bombardeio realizado pela esquadrilha nazista “condor”, a antiga capital basca e sede do primeiro parlamento democrático da Espanha, em Guernica, uma pequena cidade. O bombardeio durou três dias. O quadro teve inicio em um 1º de maio e ficou pronto em cinco semanas e, é claro, causou polêmica dentro e fora do mundo da arte:

 

          “Não, a pintura não está feita para decorar cômodos. É um instrumento de guerra ofensivo e defensivo contra o inimigo.” (o autor fala sobre Guernica).

arte como instrumento para libertação

Massacre na Coreia: denuncia de impunidade

2)      Massacre na Coreia”: em 1951, no ateliê da Rua Galloise, Picasso pinta mais um quadro tido como polêmico. Nele, mulheres e crianças são exterminadas por robôs. Uma critica a invasão norte-americana ao país socialista. Ao falar sobre a pintura o artista falou:

 

          “Não é um quadro de propaganda. Não sei quem são os norte-americanos e quem são os coreanos no quadro. Sei que existe um massacre e estou ao lado dos massacrados porque ando desarmado como eles. Pior para aqueles que se identificaram com os que massacram.”

stalin por Picasso

Stálin por Picasso

3)      Extremamente político, o artista não se intimidou a expor sua opinião ao mundo: em 1949 mostra ao mundo “A Pomba da Paz”, desenho que teria sido feito a pedido de Stálin, principal nome do partido Bolchevique da URSS depois de Lênin, que dirigiu o país por 26 anos (1927-1953), além do desenho do mesmo, que gerou discussões, inclusive no próprio partido comunista francês, do qual Picasso era membro.

pomba_da_paz_picasso

A Pomba da Paz (1949) tornou-se um símbolo mundial, utilizado até hoje

Pablo Picasso foi mais um daqueles que ousaram utilizar sua arte a serviço da sociedade, transpondo o campo meramente acadêmico ou os espaços frios das galerias de arte. É uma obra que toca, atrai os olhares, puxa o observador para sua linguagem. Ganhador do prêmio “Lênin da Paz” em 1962 pela série “Rapto das Sabinas”, como tantos outros, a obra desse grande artista continua atual e atraindo cada vez mais admiradores.

Uma Estrela Que Se Foi Em Uma Noite de Natal

o artista tem de estar onde está o povo

Chaplin, o eterno e gracioso Carlito

Charles Chaplin (1889-1977) nasceu em Londres, Inglaterra, no dia 6 de abril de 1889. Seu pai Charles Spencer Chaplin, era vocalista e ator e sua mãe Hannah Chaplin, era cantora e atriz. Seus pais se separam antes de Charles completar três anos. Em 1894 com apenas cinco anos Chaplin subiu ao palco e cantou a música “Jack Jones”. Seu pai era alcoólatra e tinha pouco contato com o filho. Morreu de cirrose hepática em 1901. Sua mãe foi internada em um asilo e Chaplin foi levado para uma casa de trabalho e depois transferido para uma escola de crianças pobres. Em 1908 emprega-se em teatros de variedades e faz sucesso como mímico. Em 1910 iniciou sua primeira turnê nos Estados Unidos com a trupe de Fred Karmo, retornando a Inglaterra só em 1912. Em 1913 estreia no cinema, nos estúdios Keystone Film Company, onde criou em 1915 a comédia “O Vagabundo” seu mais famoso personagem, um andarilho, pobretão, com as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro, vestido com casaco esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largo que o seu número, um chapéu coco uma bengala e seu marcante bigode.

o grande ditador

a arte como reflexão da realidade

Em “O Grande Ditador” em 1940, toma partido contra as perseguições raciais na Europa. O ator passa a ser perseguido pela sua posição política, sobretudo pelo “Macarthismo” ( movimento iniciado nos Estados Unidos em 1951 pelo senador Joseph McCarthy, com a finalidade de perseguir as pessoas que eram a favor do comunismo. Também chamado de ”caça às bruxas”,essa perseguição se deu em todas as esferas da arte norte-americana. Nesse período o cinema e a arte tornaram-se um dos alvos principais, e Chaplin, um dos principais alvos, sobretudo por causa de sua popularidade):

(…) Desde o fim da última guerra mundial, eu tenho sido alvo de mentiras e propagandas por poderosos grupos reacionários que, por sua influência e com a ajuda da “Imprensa Marrom” criaram um ambiente doentio no qual indivíduos de mente liberal possam ser apontados e perseguidos. Nestas condições, acho que é praticamente impossível continuar meu trabalho do ramo do cinema e, portanto, me desfiz de minha residência nos Estados Unidos“. ( Chaplin, ao explicar os motivos para sair dos estados unidos, indo morar na Suíça, depois das muitas perseguições a sua obra).

Charles Spencer Chaplin, morre em Vevey, na Suíça, no dia 25 de dezembro de 1977, em uma noite de Natal. uma estrela que deixava seu lugar na terra, pisando na calçada da história da arte e de nossa cultura, eternizando sua imagem em nossa memória para sempre…

chaplin indo

Discurso de Charlie Chaplin no filme “O Grande Ditador”, de 1940:

“Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio… Negros… Brancos.

            Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

            O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.  A cobiça envenenou a alma dos homens… Levantou no mundo as muralhas do ódio… E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

            A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem… Um apelo à fraternidade universal… À união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora… Milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas… Vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia… da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

            Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… Que vos desprezam… Que vos escravizam… Que arregimentam as vossas vidas… Que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar… Os que não se fazem amar e os inumanos!

            Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela… De fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo… Um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

            É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!

            Hannah estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!”

chaplin idoso

https://www.youtube.com/watch?v=qPQ-hG7er8I (trecho do filme “O Grande Ditador”, onde Chaplin faz seu magnifico discurso);

https://www.youtube.com/watch?v=-IV4t5onobY (Filme “O Grande Ditador” completo)

obs:

1)  Hannah é o nome da personagem de Paulette Goddard, par romântico de Adenoid Hynkel, barbeiro judeu, interpretado por Chaplin. O de talhe é que ela foi casada com o ator. O nome da personagem é também uma homenagem a mãe do ator, Hannah Chaplin, era cantora e atriz.

2) Apesar de ser taxado de Comunista, Charlie Chaplin não se definia como tal, e sim como um patriótico e “progressista”. O momento politico talvez mais tenso envolvendo o artista foi quando defendeu que a salvação do mundo contra o Nazismo estava nas mãos dos Comunistas da URSS, editando e divulgando textos e discursos em favor da entrada dos EUA na guerra contra Hitler.