Castro Alves, Poeta do Povo

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Castro Alves

Era um comício dirigido pelos republicanos, o ano não interessa, é a ultima coisa que se questiona quando se fala sobre lutar pela liberdade, algo distante da academia, eu sei, mas, vamos só citar que era mil novecentos e lá vai o trem, não importa o ano, era um tempo de luta por liberdades, focado em bandeiras concretas, inflamado por ideais e sonhos… era o Brasil, de hoje ou de ontem, o Brasil de sempre, o Brasil de luta e que luta, independe o ano ou o ato, seja você bajulador de datas ou não. Era o Brasil, nosso Brasil, em um comício dirigido pelos republicanos, cheio dos ideias republicanos, cheio de ideias de um país a fim de se descobrir, sozinho.

O orador era Antônio Borges da Fonseca, cercado pelo povo, empolgação, palavras de ordem. Se você achou parecido com o Brasil de Junho (2013) não se admire se eu te disser que você é um dos meus: quem foi que disse que só agora o gigante acordou? Pois bem; enquanto Antônio Borges discursava a polícia interveio, baixou a porrada em todo mundo, reprimindo o ato, prendendo o orador. A repressão não é de hoje, não é uma palavra que a TV inventou pra defender a polícia, falar mal do movimento estudantil ou confundir o telespectador.

Pois bem. Foi só isso? O povo saiu em protesto, realizou novo comício, “tocando o terror”, como diz o outro. No meio do evento um jovem baiano, magro, alto, muito branco, vestido de preto, com um cabelo levemente esquisito, improvisa uns versos:

“Quando nas praças se eleva/Do povo a sublime voz,/Um raio ilumina a treva,/O Cristo assombra o algoz…”

O nome poema, “O povo ao poder”, de um jovem chamado Castro Alves, e iria ser mais um exemplo desse poeta à frente de seu tempo, tocando em temas polêmicos pra época, como a escravidão e a libertação do País, e isso não era feito de modo rotineiro, nem uma mera reprodução acadêmica. Nascido em Curralinho, numa fazenda chamada Cabaceiras, na Bahia, no ano de 1847, e morrendo ainda muito jovem, aos 24 anos, decorrência da tuberculose, algo muito comum na época, o poeta se destacou pela sua arte e sua postura de lutador social.

Na literatura, foi expoente do Condoreirismo, fase politizada do chamado Romantismo no Brasil. Inspirado nos versos de Victor Hugo, o jovem Castro Alves é considerado o maior poeta lírico de nossa história, apesar das tentativas de esconder sua postura revolucionária. Vislumbrou e defendeu uma nova sociedade, o que lhe deu o título de visionário:

“Em breve, sob estas selvas gigantescas da América, a família brasileira assentará como nos dias primitivos…não mais escravos! Não mais senhores!”

Entre suas obras destacam-se “Espumas Flutuantes”, única obra lançada em vida pelo poeta, “O Navio Negreiro”, denuncia contundente contra os males causados pela escravidão e a peça “Gonzaga ou a Revolução de Minas”, sobre a Inconfidência Mineira, que fez um grande sucesso de crítica e de público por todo o país.

Chamado carinhosamente pela família de Cecéu, intitulado “O Poeta dos Escravos” ou elogiado por nomes como Machado de Assis, Castro Alves deixou mais que uma vasta obra literária, mais que um exemplo de vida dedicada à arte e a poesia, foi um artista consciente, um poeta comprometido com os oprimidos e necessitados, um visionário, um jovem que utilizou sua arte em prol de uma sociedade mais justa e conseguiu ver o nosso Brasil futuro, mesmo estando preso num tempo onde lutar pelo fim da escravidão legalizada era coisa de outro mundo.