O Brasil não é um País sem Memória!

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Ditaduras na América Latina foram patrocinadas pela CIA

Esse mês de Setembro o nosso Cine vai trazer uma programação especial, em homenagem à Memória, Verdade e Justiça, debatendo o que foi  a repressão em nosso país, a participação dos EUA nos golpes ocorridos na América Latina por meio da Operação Condor, as torturas nos porões da ditadura e a resistência de nosso povo.

Em setembro lembraremos os nomes de Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Amaro Luís de Carvalho, Amaro Félix e Manuel Aleixo, participantes da luta contra a ditadura militar, assassinados pelo regime militar no início da década de 70, completando 40 anos em 2013, assim como os 40 anos do brutal assassinato de Victor Jara e Salvador Allende, mortos durante o golpe de Pinochet, no Chile em 73.

Outro avanço é que o nosso Cine agora vai passar a levar sua programação para os bairros e escolas de nossa cidade, bem como sindicatos e associações de moradores. Quer participar? Levar o cine-debate para sua rua, seu bairro ou sua escola? entre em contato conosco.

Programação:

  • “A vida do Comunista Manoel Lisboa” (Documentário sobre o fundador do PCR, assassinato em 4 de setembro de 73, no DOI-Codi);

·         Cidadão Boilesen”: Quem esteve por traz do golpe de 64? Quem financiou o golpe?;

·         O dia que Durou 21 anos”: A participação dos EUA no golpe de 64;

·         Tempos de Resistência”: Documentário. O golpe militar de 64 pela visão daqueles que assistiram o golpe;

·         “El Derecho de Vivir en Paz”: Documentário sobre a vida e a obra de Victor Jara, de   Carmen Luz Parot, de 1999.

No fim da programação teremos um debate sobre a comissão nacional da Verdade, criada pelo governo para apurar os crimes e abusos ocorridos durante o regime militar.

Participe!

Musica do Mundo: “A Ilha”, de Taiguara, Fernando Moraes e de todos

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A música “A Ilha”, do cantor e compositor Taiguara (https://papobla.wordpress.com/2013/08/10/tentaram-calar-o-taiguara/), lançada no disco de 71 “Fotografias” traz um desabafo poético, uma denuncia  da situação ditatorial que o país enfrentava, ao mesmo tempo que tecia um elogio ao livro de Fernando Moraes e a ilha de Cuba, socialista, que havia erradicado o analfabetismo e promovido enormes avanços em todas as áreas, mesmo sofrendo um bloqueio econômico por parte dos EUA após a revolução de 1959.

Já o livro de Fernando de Moraes é uma reportagem lançada em 1976, e tornou-se um dos maiores sucessos editoriais brasileiros e se converteu num ícone da esquerda brasileira nos anos 70. Fernando Morais apresenta suas impressões sobre o país socialista.
“A Ilha” teve trinta edições esgotadas, passou mais de sessenta semanas nas listas de mais vendidos e foi traduzido na Europa, Estados Unidos e América Latina. Polêmico, o livro foi acusado de fazer a apologia da Revolução Cubana e chegou a ser apreendido pela polícia em dois estados. Naquela época o isolamento de Cuba, para os brasileiros, era total. Com o golpe militar de 1964, o Brasil rompera relações com o regime de Fidel Castro, repetindo o que já fizera quase toda a América Latina. Os passaportes brasileiros passaram a ostentar a advertência: “Não é válido para Cuba”. Foi nessa atmosfera típica da Guerra Fria que Morais desembarcou em Cuba, onde passou três meses colhendo dados para uma reportagem que se tornaria histórica.

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A Ilha

(Taiguara)

“Meu pai, já não posso mais 
Viver nesse mundo em chamas…
Meu bem, eu te quero bem 
Mas vou onde o amor me chama…

Livre só, m paz, vou viver na ilha… 
Onde meus iguais serão minha família, na ilha 

Tentei, ser como vocês 
Viver nesse mundo errado…
Adeus, vou deixar vocês 
Chega de viver guardado… 

Hoje o meu adeus corta o meu destino… 
Que o amor faz meu e eu volto a ser menino”…

(http://www.youtube.com/watch?v=bOmJgY4kB5c)

F.U.R.T.O: Música do Mundo:

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F.U.R.T.O: Música do Mundo:

A banda F.U.R.T.O (Frente Urbana de Trabalhos Organizados) surgiu no ano de 2004, lançando apenas um álbum até o momento (a banda deu mesmo foi uma sumida), o disco “Sabgueaudiência” foi lançado em 2005 pela Sony/BMG e é um trabalho denso, complexo e completo. Ao som de afirmações tipo “vcs imitam o Rappa” e os inevitáveis debates sobre a estranha saída de Marcelo Yuka de sua antiga banda, parece que aguçou a curiosidade e todos, na época para ver esse projeto.
Com letras políticas, uma postura coerente, e uma musicalidade extraordinária, não demorou muito para atrair a atenção do público. O clip da música “Não se preocupe comigo” remete aos tempos de ouro do Rappa, quando Yuca, então baterista, apresentava letras poderosas traduzidas em clips históricos. Se Maurício Pacheco lembra a voz do Falcão ou não nem interessa. É ouvir a música e logo constatar que o caráter social e engajado continua vivo, mesmo após Yuca ter sido baleado em um assalto no ano 2000.
O som da banda F.U.R.T.O vai mais além que o mero entretenimento. Tem conteúdo. E muito. É uma musica do mundo.

(https://www.youtube.com/watch?v=hDHuhcPiSlQ)

Pra Acordar!

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As recentes manifestações foram apresentadas, inicialmente, como sendo algo isolado, “coisa de vândalo”, de jovens, portanto, sem fundamento ou foco algum. Assim falava a mídia, que, como todos sabem, sempre estiveram do lado daqueles que tem o poder nas mãos. Associar a Globo, o SBT, a FIFA ou nomes de jornalistas importantes, como o de Boris Casoy ou o William Waack, ao CCC, CIA ou a ditadura militar também não é novidade. Primeiro atacaram as manifestações, depois dedicaram horas na cobertura dos fatos, espalhando mentiras, isolando a verdade, atacando quem não devia. Se for pra dizer que os manifestantes são arruaceiros inconsequentes em detrimento da cobertura da Copa das Confederações, lá estavam eles, “os formadores de opinião”. Se foi para aplaudir as multidões que se solidarizaram a causa e engrossaram o caldo e o coro num grito de libertação, lá estavam eles. Tinha mais gente nas ruas do que nas Arenas vendo aos jogos da seleção. Isso não falaram. Em contrapartida, tiraram a novela do ar (que alívio!) para “noticiar” o povo escrevendo um novo rascunho para nossa história. A mídia é boazinha, neutra, coerente? Nada. Estavam só fazendo seu papel. Esconder milhões nas ruas de todo o Brasil é meio difícil.

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O movimento foi “espontâneo”, surgiu por fora dos meios usuais, mas, nem por isso pode ser considerado algo “novo”. É por isso que não dá pra admitir a imposição de alguns em relação às entidades, partidos políticos e organizações do movimento social, que são, queiram ou não os ativistas das redes sociais, pioneiros nessas lutas, seja em época de extrema repressão, como foi a Marcha dos 100 mil, transição como o Fora Collor ou os recentes embates contra os aumentos nas passagens de ônibus nas capitais do país. A negação de uma minoria aos partidos políticos, que a mídia fez questão de pautar, inocentemente, também não é uma novidade nem fruto de uma nova forma de se fazer política. Mesmo em 1917, ano da grande revolução Bolchevique na Rússia, as grandes passeatas se seguiam com a mesma minoria panfletando a desorganização popular em troca de um esquerdismo inconsequente e, esse sim, sem foco.

Passado as manifestações, algumas conquistas se fizeram presentes. É nítido que a consciência da população não é mais a mesma, porém, mais uma vez, a mídia fez questão de colocar seu dedo. As mobilizações agora recebiam o cunho de mero modismo, coisa de jovem sem formação política alguma, algo pontual e passageiro, negando que, cotidianamente há aqueles que lutam por uma mudança profunda nessa realidade, entendendo seu papel nessa transformação. O movimento estudantil, sindical, de bairros, mulheres, culturais e tantos outros ganharam maior fôlego para repudiar o atraso de nosso Brasil e ganham cada vez mais forças.

Em Serra Talhada, mais de três mil pessoas participaram da maior passeata da história do município, pautando os principais anseios locais, articulando as conquistas possíveis. Mais do que participar, a juventude sertaneja ousou construir uma discussão, e houve frutos. Em uma região onde a apatia, o coronelismo, os currais eleitorais, a política como meio de enriquecimento ilícito, e tantas outras coisas mesquinhas ao longo de todo esse tempo, afastou a juventude e o povo do “fazer político”, da participação, trocando a militância política pelo ativismo eleitoral, o que há de mais baixo em relação à política nacional.

Entender seu dever de transformar a sociedade em que vive construir uma alternativa para o futuro, interpretando a realidade em que vive é algo fundamental nesses dias conturbados, onde vivemos a maior crise de toda a história do sistema capitalista. De 2008 pra cá milhões de desempregados, greves gerais na Europa, agitações no Oriente e tantas outras mudanças somam-se com os anseios da juventude brasileira como um todo. Nessa hora, estudar e entender nossa realidade é fundamental, e só uma teoria completa e coerente, como o Marxismo-Leninismo, é capaz de nos guiar para uma verdadeira modificação. O Gigante, como foi dito, nunca esteve dormindo. Nós também não podemos seguir outro raciocínio. É a hora de sair das redes, ganhar as ruas, não pelo puro passeatismo, mas aplicar em nosso dia a dia uma verdadeira forma de mudar, radicalmente, com nossa situação.

 

 

Aumentar os investimentos na educação e na saúde, diminuir os gastos com coisas secundarias, acabar com a corrupção e outras tantas reformas não basta para resolver nossa situação de fome, miséria e pobreza, mesmo vivendo na 6° economia do planeta. Apenas uma revolução popular, real, consequente e consciente porá um fim e toda essa incerteza. “Onde estão nossos grandes homens? onde foram suas grandes ideias?  
Quem são nossos grandes amigos? Quem cuida do índio e do homem do campo? Quem mata o índio e o homem do campo?”

Todas essas respostas estão aqui, bem em nossa frente, clamando para que algo realmente se modifique. Em nossa consciência uma contradição que precisa ser resolvida: esperar que tudo se resolva sozinho, cuidando de nossas vidas, reproduzindo o velho individualismo, ou construir o amanhã hoje. Estamos vivos? Cabe a nós transformar a humanidade. Há tanta coisa que podemos fazer. Comecemos pelo simples exigindo o impossível.

Dez Dias que abalaram o Mundo (Fragmento)

Aparte

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“Seguimos para a cidade. Bem à porta da estação postavam-se dois soldados com as baionetas caladas. À sua volta, pelo menos umas cem pessoas – negociantes, funcionários do governo e estudantes – atiravam-lhes insultos e os provocavam com argumentos exaltados. Os soldados se mostravam contrafeitos e ofendidos, como crianças que estivessem recebendo uma repreensão injusta.

Um rapaz alto, a arrogância estampada no rosto, trajando um uniforme de estudante, era quem dirigia o ataque.

– Vocês se dão conta, imagino – disse, com insolência – de que, ao apontarem armas contra seus irmãos, estão servindo de instrumentos a assassinos e traidores?…

– Escuta aqui, meu irmão – respondeu um dos soldados, convicto – você não entende. Perceba o seguinte: há duas classes, o proletariado e a burguesia. Nós…

– Ah! Já conheço essa cantiga! Interrompeu o estudante grosseiramente. – Um bando de camponeses ignorantes como você ouve meia dúzia de chavões, não entende do que se trata e sai repetindo por aí como um papagaio. – À sua volta, todos riam.

– Sou um estudante marxista. E posso lhe dizer que isso por que vocês estão lutando não é socialismo coisíssima nenhuma. É pura e simplesmente anarquia pró-germanica!

– Claro, eu sei muito bem – respondeu o soldado, com pingos de suor a lhe escorrerem da testa – você é um homem instruído, enquanto eu não passo de uma pessoa simples. Mas me parece…

– Presumo – interrompeu o outro, com desprezo – que você vê em Lênin um amigo verdadeiro do proletariado…

– Vejo, sim – respondeu o soldado, sofrendo com as zombarias das pessoas.

– Pois meu amigo, você sabia que Lênin atravessou a Alemanha sigilosamente em um vagão com as cortinas descidas? Sabia que Lênin recebeu dinheiro dos alemães?

– Essas coisas eu não conheço muito bem – respondeu o soldado teimosamente – mas me parece que o que ele diz é aquilo mesmo que eu quero ouvir, eu e todos os homens simples iguais a mim. Porque, veja bem, há duas classes: a burguesia e o proletariado…

– Você é um bobalhão! Escute aqui, meu amigo: passei dois anos em Schlusselburgo por causa de minhas atividades revolucionárias, enquanto na mesma época você ainda estava atirando nos revolucionários e cantando Deus Proteja o Czar! Meu nome é Vassili Georgevicth Panyin. Nunca ouviu falar em mim?

– Desculpe, mas nunca ouvi falar – respondeu o soldado com humildade. – O senhor tem que ver que eu não sou um homem instruído. Provavelmente o senhor é um grande herói.

– Sou – disse o estudante com convicção. – E sou contra os bolcheviques, que estão destruindo nossa Rússia, nossa revolução livre. Agora me diga: como é que você explica isso?

O soldado coçou a cabeça.

– Não explico de jeito nenhum – disse, com uma careta indicativa do esforço que aquilo estava exigindo de sua capacidade intelectual. – Para mim tudo parece perfeitamente simples, mas tem que ver que aquilo estava exigindo de sua capacidade intelectual. – Para mim tudo parece perfeitamente simples, mas tem que ver que eu não sou uma pessoa instruída. Tudo o que eu vejo é que existem duas classes: o proletariado e a burguesia…

– Lá vem você outra vez com sua fórmula idiota! – gritou o estudante.

-… Duas classes – continuou o soldado, obstinadamente. – E acabou-se. Ou se está de um lado, ou se está do outro “…

( Fragmento do livro “Dez dias que abalaram o mundo”, de John Reed. Capítulo 7, páginas 238-239)

Tentaram Calar o Taiguara

 

English: Taiguara, a Brazilian vocalist and co...

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Taiguara Chalar da Silva nasceu em Montevidéu, Uruguai, durante uma turnê do pai, Ubirajara Silva, musico e maestro brasileiro e Olga Chalar, cantora, em nove de outubro de 1945. Sofreu grande influência de sua família, principalmente seu avô, também musico. Aos 10 anos já esboçava as primeiras canções e as primeiras notas ao piano, instrumento que o acompanharia durante toda a vida.  Em 1964 iniciou sua carreira musical na noite, onde se tornou amigo de nomes como Chico Buarque e Toquinho. Mas foi no movimento estudantil universitário que iniciaria sua militância política e sua formação. Se apresentando em espetáculos de cunho político, interpretava peças e recitava poemas, com o movimento “Musicanossa”. Com o advento do golpe militar interrompe seus estudos na faculdade de direito do Mackenzie e passa a e dedicar inteiramente a musica, sobretudo nos grandes festivais.

        A arte…

 

Nos festivais, Taiguara logo conquistou notoriedade e sucesso; com seu talento conseguiu chegar ao topo do sucesso nas rádios de todo país, após ganhar festivais nacionais em 68 com a música “Modinha” e no ano seguinte com a canção de Alberto Land “Helena, Helena, Helena”. Em 1970 recebe o prêmio de melhor compositor do ano, pela música “Hoje”. No final dos anos sessenta Taiguara era um dos maiores artistas de nossa música, dentro e fora do país.

 

Tentaram calar Taiguara?

 

O golpe militar no Brasil abalou o país também em sua cultura. De um lado havia artistas que defendiam o golpe ou eram abertamente patrocinados por ele e do outro uma oposição ao golpe liderado pela chamada “musica de protesto”, a MPB. No campo da direita Wilson Simonal lançava em 69 a música de Jorge Ben “País Tropical”,e Tim Maia apresentava seu primeiro trabalho, em 1970, com a música “Azul da cor do Mar”. Do lado da resistência contra o golpe duas vertentes se mostravam: enquanto Caetano e outros faziam denuncias escondidas como “é proibido proibir” e Cálicede Chico Buarque e Gilberto Gil, outros como Vandré e Taiguara denunciavam abertamente o golpe. Por essa postura Taiguara foi tido como inimigo declarado e sofreu dura perseguição pela censura. Em 71 tem sua primeira canção censurada, em 72 foram mais duas, no ano de chegaram as 45 músicas proibidas. Ao todo Taiguara teve 68 musicas proibidas pelos censores. Mas a proibição não ia só nas músicas: shows, entrevistas, participações em programas de TV, tudo era boicotado pela censura, causando diversos prejuízos para o cantor. A censura recomendava que “gelassem Taiguara”, e até a sua gravadora, a multinacional Odeon, em apoio à censura, retirou todos os discos do cantor de catálogo. Já não era possível ouvir, ver ou assistir Taiguara.

     O auge da perseguição se deu no ano de 1976, quando o disco “Imyra, Tayra, Ipy”, um disco memorável, que contou com a produção de Hermeto Pascoal, e a participação de grandes músicos como Wagner Tiso, Toninho Horta e Ubirajara Silva, seu pai, foi recolhido, 72 horas após seu lançamento. O disco foi gravado em Londres, com a orquestra sinfônica de lá, mas nunca foi lançado no Brasil. O primeiro disco de um músico brasileiro censurado, mesmo sem ter sido se quer gravado no país.

 

 Consciência de classe

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Mesmo com toda perseguição por parte das elites que patrocinaram o golpe militar, Taiguara manteve sua arte com uma profunda qualidade musical, letras maravilhosas e uma mensagem consciente. Jamais se deixou abater pelo julgamento negativo que faziam, que enfrentava sua arte, especialmente se tratando de um cantor tido como subversivo ou de esquerda, como dizia a censura. Não chegou e ser membro de nenhum partido político, mesmo tendo sido amigo de Luís Carlos Prestes, a quem admirava e homenageou na canção “O cavaleiro da esperança”.

     Ao abordar a questão da censura e da ditadura em suas letras não apresentou jamais nenhum revanchismo, como na letra de “O amor da justiça”, de 1983:

 

 “Pois é, companheiro, não dá pra ver tanta injustiça e estar a dizer eu te amo/ por isso esses anos calados, por isso esses versos proibidos/ já não quero cantar esse amor sem justiça, que me censurou, mecegou/ cantar sim, mas bem mais honesto é lutar com você”.

 

Ao voltar para o Brasil teve que arcar com os anos de esquecimento que teve sua obra: “Não interessa a uma empresa capitalista, gravar nada brasileiro, realista, com cunho socialista, que exalte a revolução cubana”. Em 94 lança o disco “Brasil Afri”, um sonho do cantor em homenagear o nosso Brasil e suas origens africanas, seu ultimo trabalho.

 

     Um artista que a juventude precisa descobrir

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     Mesmo com toda a perseguição e a censura a obra de Taiguara não pode ser escondida. Hoje, com a chegada das grandes mídias, especialmente a internet, é possível baixar vídeos do cantor e seus discos, e notar como sua música é atual e rica, baseada nem caráter de classe e voltada para o povo. Essa obra merece uma análise e uma reflexão, sobretudo pela juventude, no resgate de nossa história e da resistência de nossa cultura popular. Hoje os filhos do cantor dirigem uma campanha de repatriamento do disco “Imyra, Tayra, Ipy” e tentam resgatar a obra de seu pai, tão atual e viva, que cumpriu um papel fundamental contra esse período terrível do país que foi a ditadura militar de 64-85. Taiguara representa a resistência, Como ele disse na música “Em algum lugar do mundo”: “A pior morte que existe é se viver inutilmente”. Taiguara presente!

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Redução da Maioridade Penal para quem?

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            Nos últimos meses temos visto uma forte discussão sobre a redução da maioridade penal. A mídia, especialmente programas do tipo do José Luís Datena, divulgam abertamente suas opiniões que a redução da maioridade penal é a solução definitiva para a onda crescente de violência enfrentada nas grandes capitais e em todo país. Portadores de um discurso “aparentemente moralista” jogam a culpa de toda criminalidade de maneira isolada, em menores infratores, transformando pelo senso em senso comum suas teorias para salvar nossa sociedade de “menores criminosos”.

            Hoje tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, não uma, mas três Propostas de Emenda Constitucionais (PEC), visando reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. Assim, invés de ser julgados pelo estatuto da criança e do adolescente (ECA), o menor infrator irá logo para a justiça comum, sendo julgado como os demais infratores. Porém, existem pormenores que a imprensa, com sua velha distinção de dizer o que é certo ou errado, têm deixado uma série de fatos fora desse debate, que é colocado de maneira unilateral e fechado.

                                  

Reduzir a Maioridade ou a Violência?

            Na verdade, o que vem sendo escondido, como sempre, por traz dos discursos da grande imprensa brasileira e seus idealizadores é uma situação política, que poderia ser vista como dois motivos para defender o tema: a omissão do Estado e a tentativa de “Limpar” o país para a opinião pública estrangeira, frente aos megaeventos, como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo, as Olimpíadas de 2016, ou mesmo a recente visita do Papa. Ou seja, o mundo está de olho na 6° economia mundial.

            Além de uma medida paliativa, meramente politiqueira para uma minoria rica, é também uma tentativa de higienização visual, midiática por parte das autoridades e uma elite rica, o principal público desses eventos mundiais. Uma rápida pesquisa sobre as expropriações e expulsões das favelas para a Copa, a internação compulsória de viciados em crack ou a famigerada Lei da Copa (que proíbe até manifestações durante os jogos da Copa) mostra essa intenção e a quem essas leis beneficiam.

            Na Rio+20, por exemplo, vimos o policiamento ostensivo, com a ativação do toque de recolher, e a repressão por parte da polícia na cidade do Rio de Janeiro. Até os ambulantes eram proibidos de vender água, por exemplo, porque as marcas patrocinadoras do evento não permitiam e a polícia, braço do estado, colocava essa medida em prática, batendo em pais de família, apreendendo sua mercadoria. Uma simples caixa de isopor. Mas, isso, a mídia faz questão de não mostrar:

 

  • O Brasil é a 4° maior população carcerária do mundo (pouco mais de 514 mil pessoas) segundo a pesquisa “O Brasil atrás das grades”;
  • Desses mais de meio milhão de presos 56,3% tem entre 18 e 29 anos; ou seja, a juventude é quem mais tem estado nas prisões de nossa pátria, ao invés de estarem trabalhando ou estudando;
  • O Brasil tem a população carcerária que mais cresce no mundo (350% nos últimos 20 anos);
  • A maioria dos crimes estão ligados ao patrimônio (57% roubo ou furtos);
  • Enquanto o número de presos cresce, contraditoriamente, os números da violência não diminuem: o País é o 4° país onde mais se mata jovens entre 15 e 19 anos;
  • Segundo a FLASCO (Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais) são 44,2 casos de morte entre jovens para cada 100 mil habitantes;
  • Uma prova que a redução da maioridade penal não resolve é o próprio EUA: lá uma criança é julgada como adulto, a partir dos 12 anos e ainda possui a Pena de morte, ainda assim, o país lidera o ranking de maior população carcerária do mundo, mostrando que a repressão está longe de resolver o problema, que está mais arraigado no meio social.

 

 

                                   A Culpa é de Quem?

 

 

Se reduzir não resolve, temos que achar um culpado. O estado, que deveria se responsabilizar, gerindo os presídios, que são hoje verdadeiras universidades do crime, se quer é citado pelos meios de comunicação. A culpa toda é jogada para o menor infrator. O caso isolado, como na maioria das vezes, especialmente se a vítima for filho de alguém que possui um status social elevado. A criança sem educação, lazer, escola, moradia, saúde e cultura nunca é vista também como uma vitima da omissão do estado, o mesmo que pune, mas não educa.

            Outra acusação é de que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) “passa a mão na cabeça” do menor infrator, o que não é verdade. O ECA prevê punições para o menor, mas leva em consideração o fato de que um adolescente, por estar em processo de formação física e psicológica, pode ser resocializado de maneira eficaz, ao passo que, um adulto já possui um caráter já definido.

 É claro que, ao dizer isso, não estamos sendo coniventes com os crimes cometidos por um menor de idade; na verdade vemos o outro lado: os centros de recuperação são presídios em miniatura. Instituições como a FEBÉM ou a PAE são reflexos de como os presos no Brasil são tratados e como o sistema prisional é conduzido: lotação, abandono, miséria… Ou seja, o jovem que entra em um centro desses sai de lá com, no mínimo, um nível médio no crime e dificilmente vai ser reestabelecido na sociedade sem sofrer as sequelas da prisão.

           

                       

Qual a Solução?       

 

 

Se a FEBEM não resolve, imagine se colocarmos todos os menores infratores atrás das grades de uma prisão comum? Teremos que construir mais presídios do que hospitais, escolas, bibliotecas? Os jornalistas de direita pragam absurdos, e jogam na população, como por exemplo, a criação da Pena de morte, a chamada “lei do menor esforço”, ao invés de cobrar do estado pela falta de expectativa de vida e a exclusão social da imensa maioria da população (pobre, negra e favelada) a mesma população que abarrota as prisões de nosso país.

                        Nossos jovens, ao invés de terem os bens básicos como saúde e educação ganham a repressão policial. As mesmas mães da Bolsa-família são as mesmas mães dos filhos presidiários, semianalfabetos, expostos desde cedo ao tráfico, à violência e a prostituição. Será que reduzir a maioridade resolve mesmo os problemas, em detrimento da educação?  Estimativas apontam que, em 40 anos, a população carcerária atingirá a marca de 10 milhões de presos.

 

                                   Porque sou contra a Redução?

 

                        Cloves silva, estudante de Letras da UFRPE, que passou sua infância morando na periferia do Recife nos deu um depoimento sobre o fato:

 

                        “cresci minha vida toda no que chamam de favela. Enfrentei todo tipo de dificuldade para entrar na universidade, coisa rara no meu bairro, na minha escola e também em todas as famílias de meu bairro. Lá, quando alguém consegue algo desse tipo, as pessoas comemoram como se fosse uma festa; de repente você fica famoso, todos querem saber quem é o universitário do bairro. Eles nem imaginam oque seja isso. Tenho uma prima que teve seu filho, de14 anos, preso por envolvimento com drogas num bairro de Olinda. Ela viu de tudo quando ele chegou a um centro de detenção para menores do Recife. Ele foi submetido a todo tipo de coisa lá dentro: serviços forçados, espancamento, fome, pagar para dormir, agredir e ser agredido pelos outros e todo tipo de coisa desumana. Ela me disse que, lá, não são tratados como gente. E ele só tem 14 anos. Disse pra ela que, só passa por isso por ser novato, e que, quando chegar outro isso acaba. E eu imagino, será que ele vai sair de lá melhor do que entrou? Todos na família têm certeza que não. Outro dia ela disse que ele foi obrigado a bater em um menino novato, menor que ele. Ele teve que fazer. “Ou eu fazia com ele ou eles faziam comigo” disse ele. Um menino de 14 anos que não tem nem tamanho. Com certeza não vai sair de lá recuperado. Se ele tivesse acesso a uma escola integral, algum tipo de curso profissionalizante ou algo parecido… mas não. Em uma das piores favelas de Olinda ele só cresceu rodeado pelo tráfico de drogas, violência, mortes e todo tipo de situação. Uma criança apenas”.

 

            É como diz a letra do Rapper, “MC Demo”, O Povo no Poder”:

 

         “Atrasaram minha vida, destruíram minha cultura, construímos a riqueza para andar de viatura?”…

O Brasil Não Está Mais Tão “Deitado Eternamente Em Berço Esplendido”

 

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Julho de 2013 ficará registrado nas páginas de nossa história. Mais uma vez, como as mobilizações ocorridas no final dos anos 80/começo de 90, (as diretas já! e o fora Collor), a juventude brasileira foi protagonista de mais uma agitação nacional, de forma consciente e politizada, saindo das “redes” para ganhar as ruas, contrastando com o comercial que apareceu durante a Copa das Confederações, convocando a população para irem às ruas, “A maior arquibancada do Brasil”, segundo o comercial. Pois é. Foram as ruas. Porém, diferente do que se esperava o uso do verbo “torcer” foi outro. Tão diferente que ofuscou aquilo que seria tido como “um momento de patriotismo, torcer pela Seleção”.

Que o brasileiro gosta de futebol e que é quase um técnico de futebol, isso todo mundo sabe. Porém, ao contrário do que houve por parte do governo durante a Copa de 70, onde os militares usaram a competição para encobrir o auge da repressão da ditadura brasileira, o discurso da 6° economia mundial não pegou. O gasto de verbas públicas para financiar a Copa mais cara da história (R$86 bilhões até agora, em comparação com os R$60 bilhões das copas do Japão/Coréia (2002), Alemanha (2006) e África do Sul (2010) somando as três.) segundo levantamento da Consultoria Legislativa do próprio Senado.

Não suportando as contradições de viver nessa 6° economia mundial e uma série desses absurdos, o povo soltou o grito que estava preso há tempos. E foi lindo. Tão lindo quanto à tentativa desesperada de criminalizar os primeiros atos, por parte da imprensa. Claro, quanto será que não foi pago pela Rede Globo, por exemplo, para cobrir o evento? Como sempre fazem, tentaram cortar o mal pela raiz, criminalizando os movimentos sociais. Mesmo assim, não deu: as passeatas multiplicaram-se, ofuscando as luxuosas luzes das arenas e a mídia teve que ceder a vaga aos gritos de protesto que, literalmente, abafaram os gritos de gol. Chegou ao ponto de, em algumas partidas, ter mais gente do lado de fora, protestando contra a Copa, do que dentro, assistindo ao jogo.

 

Tá na Rede?

            Uma coisa que precisa ser registrada, é que, tais movimentos não brotaram do nada, apesar de espalharem seu caráter “espontâneo” pelos quatro ventos, a crescente onda de manifestações ao redor do mundo (Primavera Árabe, Ocupe Wall Street ou as greves gerais da Europa, etc.) foi fortalecida pelas redes sociais, um espaço amplo e, aparentemente, democrático. Sem intermédio de qualquer tipo de mídia impressa ou televisiva, geralmente controladas, e com a velocidade com que se trocam informações por meios das redes,a internet tornou-se ambiente propício para todo tipo de embate político e circulação de ideias. As mobilizações que sempre foram feitas pelo meio do “boca-boca” achou outro modo de se propagar. Se as mobilizações contra o aumento de passagem (históricos no país a fora) eram comuns, agora conseguiam atingir um número muito maior de adeptos, e, com um detalhe: uma velocidade e liberdade incalculáveis. O que começou com um ato isolado contra o aumento de passagem, reprimido brutalmente pela direita, ganhou dimensão nacional em minutos, horas, dias. Todas as reivindicações em um único espaço coletivo e aberto: as redes sociais. E assustou. Dessas mobilizações, algumas observações precisam ser feitas:

·         O movimento não tem nada de “espontâneo” nem é fruto do que chamaram de “força das redes sociais”, coisa que se ventilou bastante, numa clara tentativa de desmerecer a histórica força das entidades estudantis, sindicatos, partidos ou movimentos sociais. Por traz dessa indignação está a maior crise do modo de produção capitalista da história, esse que já vem se arrastando desde2008, e que o governo chamou de “apenas uma Marolinha”;

·         A aparente onda de mobilizações, surgidas nas redes sócias, também conhecidas como “ferramentas de comunicação”, não brotou do nada, como aquela rosa do Drummond: passeatas contra os aumentos nas passagens atingiram quase todas as capitais do país, a histórica greve das universidades federais de 2012, a maior dos últimos 20 anos, e as articulações em torno do Mensalão, o novo Código Florestal e os Leilões do Petróleo (ambos do PC do B) e todas as privatizações, apenas pavimentaram o caminho para um estouro nacional. Foram à pólvora para a bomba que se formou no país. “Antes tarde do que nunca!” disseram alguns. Na verdade esse grito nunca esteve oculto, apenas abafado por outros pequenos barulhos, que, como vimos, não duraram;

·         A crítica que se fez em relação a sindicatos, partidos e entidades como a UNE, que protagonizou as Diretas Já! E o Fora Collor, surgiu de forma natural. A grande maioria dessas entidades estão atreladas, direta ou indiretamente, ao governo e seus acordos de interesses mútuos ou individuais, o que causou um claro distanciamento da grande população. A pergunta tinha que surgir: onde estava a UNE, a CUT ou os partidos ditos de “esquerda” nessa hora? PT, PC do B, PSB, todos jogando em um só time: O da desmobilização das grandes massas da população. E houve quem se assustasse. Ora, e a revolução Bolchevique de 17, não foi fruto de uma grande mobilização popular?

·         Se tem algo de novo nesses movimentos é a chamada “cyber militância”, uma faca de dois gumes: o ativismo político das redes abre espaço pra todo tipo de pensamento ou ideologia, uma mais doida que a outra. Se, antes, todo mundo buscava um espaço para dar sua opinião, agora às portas foram escancaradas. Figuras com respaldo ou não, como o caso do Lobão ou o Roger Moreira, roqueiros da década de 80, conhecidos por falarem muita besteira, passaram a arrebanhar seguidores por meio do Facebook e do Tweeter. Houve quem passasse dos limites, como o jogador Ronaldo, embaixador da Copa da FIFA ou o “Rei” Pelé, um defendendo a Copa em detrimento da saúde pública e o outro que pediu para “esquecer as manifestações e torcer pela seleção”. Opiniões como essas e tantas outras são jogadas vinte e quatro horas nas milhares de casas, lanhouses, ou aparelhos portáteis.

 

Brasil Mostra tua Máscara?

            A luta pela redução na tarifa de ônibus nas capitais, principalmente São Paulo e Rio, luta histórica, vanguardeada pelas entidades estudantis organizadas, andou junto com uma onda de apartidarismo Anarquista e oportunista. Ao mesmo tempo em que se via o chamado para se tomar as ruas, via-se um coral mínimo erguendo a bandeira do “apartidarismo”. E a mídia gostou. Jogou logo a população contra as organizações populares, independente de quem fosse manipulando novamente a opinião pública. Ali estava um exemplo claro da luta de classe: a direita, covardemente disfarçada, escondendo seus rostos, misturando sua tosca palavra de ordem no meio da multidão.

            Puro oportunismo. Usar a massa indignada com alguns partidos políticos para jogar todos contra os movimentos sociais. Ao mesmo tempo em que se mostravam as balas de borracha e o gás lacrimogênio, a imprensa mostrava Anarquistas rasgando bandeiras, e se lançandocontra a população organizada de nossa sociedade. Algo tão antigo quanto o desejo de luta. E o mais interessante é que, nas redes sociais, as enquetes mostravam, em todo o país, a simpatia com relação aos partidos ou agremiações sociais. Quem melhor do que o próprio povo para saber lhe representar?

Quem gostou disso e se esbaldou foi à imprensa e seus teóricos, figuras como Arnaldo Jabour. “A luta de classe é coisa do passado”. “A população está rejeitando os partidos políticos”. “Marx se esqueceu de falar nisso”. A aparente moda era não ter partido. “Partido: coisa de antigamente”.

                                   E a quem serve esse Apartidarismo?

Uma coisa é certa, histórica e científica: por traz das máscaras, rostos cobertos, e da covardia lançada pelo apartidarismo, se escondia a Anarquia, o revolucionarismo pequeno-burguês. A extrema direita escondida por traz de um símbolo alimentado pela própria mídia. Além de negar a organização social, pregavam uma luta sem nomes, ou bandeiras definidas. O “protestar por protestar”. Uma minoria perdida em suas próprias utopias, querendo substituir a tinta da rebeldia consequente, como foi o Fora Collor, para mascarar toda uma geração. E, de novo, não colou essa entente. Imagine se, todos aqueles mortos pela ditadura, alguns injustiçados até nossos dias, como o Honestino Guimarães, (presidente da UNE de 69 a 71, desaparecido político desde 74), e o jornalista Vladmir Herzog, tomados pela covardia, se escondessem sobre máscaras na hora da luta? Viveríamos num país sem nome? E o que dizer dos partidos que resistiram aos duros golpes das oligarquias, do coronelismo, das perseguições militares e sobreviveram, manchando de sangue a construção de nossa história?

Parece que a recente história de resistência de nossa população queria ser substituída por uma “onda nova”, na verdade, nem tão nova assim. Já em 1905, em plena efervescência dos movimentos sociais na Rússia, Lênin, principal liderança política da época, discorria em um artigo sobre o “Revolucionarismo Sem Partido”, deixando claro ser esse o “resultado de uma luta de classe”, o “produto de uma expressão do caráter pequeno-burguês dos que tentam, de certo modo, desarmar os trabalhadores com reivindicações que não destroem o capitalismo, antes, reforçam seu desenvolvimento na busca por vitórias temporárias e reformas vazias”.

Felizmente, mais uma vez, a intransigência cedeu lugar à democracia das massas mobilizadas, como do movimento “Passe Livre”, conseguiu se sobressair diante de toda manipulação da direita, seja ela mascarada nas ruas, ou nas redações dos grandes jornais e canais de televisão.

                        Dá pra ficar Em cima do Muro?

Para aqueles que pregavam a “dormência” e a “domesticidade” da população, ou até mesmo uma “crise nos movimentos sociais como um todo”, tomou um susto na manhã de 17 de julho de 2013. “O gigante acordou!” pregaram os reformistas. Acordou? Pelo contrário; ele nunca esteve dormindo. “A melhor maneira de educar um povo é fazê-lo entrar em revolução”, disse Chê. E ele entendia disso. O que se vê é a atualidade da teoria revolucionária, a necessidade de conhecer e se aprofundar no socialismo científico, e mergulhar na luta por conquistas reais, instruir o povo na luta não por apenas meras reformas pontuais.

“Não há neutralidade na luta de classe, assim como não é possível se abster de participar da troca de produtos ou da força de trabalho na sociedade capitalista”, assegurava Lênin, também acusado de “ser um partidário”. Essa realidade tentam os que lutam contra a organização popular, não notar. Dessa vez, mais uma vez, nota-se que esse é um caminho sem volta.

           

           

 

“-Black Power To The People!”

 

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Oakland, Califórnia, 1967. Em meio a toda repressão sofrida pelos negros nos EUA, um grupo de jovens decide se organizar, formando um partido para enfrentar todos os seus males. Assim surge o “Black Panther Party for Self-Defense”, conhecido depois como “Black Panther Party”. De armas nas mãos, os Panteras entraram na história contra as opressões, preconceitos, racismo e todo tipo de segregação, em uma época onde a divisão racial era gritante nos EUA. A influência de Malcolm X, o uso do Marxismo-Leninismo e a repressão ao movimento são apresentados nesse clássico do cinema mundial.

                Com direção e roteiro de  Mario Van Peebles, lançado em 1995, o longa aborda temas como preconceito, violência, drogas,  a repressão e a luta dos negros americanos. O fato é que, até hoje, a luta dos negros americanos é presente e os Panteras Negras mandam seu recado.

O que ví da Venezuela

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Conversamos com David Huan, estudante de Geografia da UFPE, diretor da União dos estudantes de Pernambuco (UEP). Ele participou do XXIII EIJAA (Encontro Internacional da Juventude Antifascista e Antiimperialista), em Caracas, Venezuela, em Agosto de 201. Ele nos contou um pouco de sua experiência no país.

 

Dizem que a primeira impressão é a que fica. Qual foi a sua ao chegar à Venezuela?

A primeira coisa que me chamou atenção foiàs ruas de Caracas; estava perto das eleições para presidente, e o país estava no clima da eleição: mensagens políticas, bandeiras, decorações* nos muros com os rostos de vários revolucionários, sobretudo os da América Latina, como Chê, José Martí, Simon Bolívar…Agente nota, de cara, o nível político dos Venezuelanos. Eles são muito politizados.

Você poderia nos dar um exemplo dessa politização deles?

Participamos de uma passeata lá, do evento, e foi muito incrível. A população ficava feliz em saber que era uma passeata da esquerda, com bandeiras vermelhas, dos movimentos sociais do mundo, isso atraia a atenção deles. Agente passava nas ruas e, lá dos prédios, as pessoas acenavam, aplaudiam, vibravam. Os trabalhadores nas construções paravam para aplaudir. Lembro que pensei: “se fosse no Brasil”…

Como você os compara a nós, brasileiros?

O grau de politização deles é muito maior que o nosso. Eles são muito avançados. Eles entendem bem a questão política local e internacional: a direita local, o imperialismo, a conjuntura internacional… das pessoas com quem falei, jovens, mulheres, idosos, todos conseguem debater sobre vários temas políticos, e possuem uma opinião prática sobre os diversos temas. A política lá é algo presente, cotidiana.

Falando em cotidiano, como é o cotidiano do Venezuelano? O país é bem estruturado?

O país inteiro está em obras. O Hugo Chávez havia construído uma cidade nos arredores de Caracas,descendo a serra, entre a praia e Caracas, que fica na parte alta. Uma cidade inteira, casas, apartamentos… tudo pro povo que não tinha onde morar ou, por algum motivo tinha perdido sua casa.

-Tipo o “Minha Casa, Minha Vida” daqui?

-Não, não. Lá as famílias tem a obrigação de passar, pelo menos, 30 anos comcasa, sem poder vender. Morando mesmo. Não pagam um centavo por elas. O “Minha Casa, Minha Vida” é meio que uma imitação do programa do Chávez. Aqui, por exemplo, você paga. Lá não. O projeto é mais ousado: é casa pra quem morava na rua mesmo. Casa pra todo mundo. Só o nome da cidade que eu não me lembro agora**.

Você acha que o povo é mais participativo da política por causa disso?

Eu acho queessa politização deles vem da luta de classe lá. A disputa lá é muito maior que aqui. Veja bem, no início da década de 90, quem dominava lá era o Neoliberalismo. Dominava tudo. Praticamente tudo era privatizado. O estado era apenas um fantoche na mão da direita de lá. Por causa disso foi que veio a crise lá e a tentativa de Chávez derrubar o governo junto com o setor militar, descontente com a situação. A crise atacou todos os setores. Essa crise por si só, já fez o povo se politizar, se educar politicamente. A revolta lá era muito grande. Outra coisa que eu acho que contribuiu foi à proximidade deles com Cuba. Isso ajuda muito a definir de que lado deve-se ficar. O povo lá criou um ódio imenso contra o Neoliberalismo, queriam mudanças radicais no país. Lá o Chávez sempre foi visto como uma pessoa muito radical, tanto que ele foi eleito em 98 com uma quantidade enorme de votos. A população pobre não acreditava mais no reformismo ou na direita, cheios de discursos bonitos e pouca ação. Querer romper com o neoliberalismo já mostra queo povo criou mesmo uma consciência de classe bastante elevada. Lá existe um sentimento anti-imperialista muito forte.

É ai onde entra a figura do Chávez?

Quando ele assumiu a presidência ele passou a estatizar empresas e cumprir com seus compromissos com a população. Ele nacionalizou muita coisa. Outra coisa interessante foi à constituição nova, totalmente massificada, gerando um debate profundo entre as pessoas, plebiscitos foram feitos… isso tudo ajudou a ele se firmar enquanto líder de uma nação. Ele conseguiu pensar e executar um projeto pro país.

Aqui no Brasil estamos acostumados a ver muita promessa, muita teoria por parte das autoridades. Você constatou, na prática, algumas dessas mudanças na vida cotidiana do país?

-O fim do analfabetismo foi um grande avanço. O país adotou um modelo Cubano, eficaz e barato, que acabou em dois anos com o analfabetismo em Cuba. A Venezuela foi o segundo país da América Latina a erradicar esse mal. Recentemente a Bolívia fez o mesmo. Tornou-se o terceiro país a erradicar o analfabetismo, mesmo sendo um dos países mais pobres da América Latina. Foi à própria ONU que reconheceu esses feitos. Outro avanço é a medicina. Há médicos para todo mundo. O médico vai à casa das pessoas, não o contrário. A prevenção de doenças é impressionante. Isso corta desperdícios, dando para se investir em outras áreas. O país também avançou ao fazer a reforma agrária. Isso diminui o número de pessoas nas favelas, aumenta o número de trabalhadores no campo e ainda gera mais renda.

-E a questão do Petróleo?

-O país é mesmo muito rico em Petróleo.  É igual no Brasil. Aqui praticamente não importamos mais gasolina de lugar nenhum, mesmo tendo o litro de gasolina custando os olhos da cara. Lá é exatamente o contrário: a gasolina é vendida a centavos de Bolívar, o litro: R$1,00 (que dá quatro bolívares e meio). Dá pra ver o quanto a população usufrui dessa riqueza natural. A gasolina lá é quase de graça pra população.

Existe uma forte oposição ao Chavismo no país. O que você notou em relação a esse grupo?

-É à direita né? Que podemos esperar da direita? Ele tem muito dinheiro, controlam metade do país. Cheguei a ver algumas bandeiras do Caprilles, sobretudo nos bairros ricos. Eles usavam muito marketing, mas não tinham política nenhuma, só dinheiro pra fazer propaganda, e tentar enganar o povão. Eles são patrocinados pelo governo dos EUA.

Então as pessoas acompanhavam as eleições de perto?

Os canais privados só mostravam a campanha da direita, já a TV pública acompanhava ambas as campanhas, e era bom. Dava pra ver como o Chávez possuía a grande maioria de eleitores a seu lado.

-Que mais te chamou atenção lá na Venezuela?

-Nos dias que passamos lá não vimos nenhum mendigo nas ruas, as ruas eram bem cuidadas, limpas, não senti insegurança enquanto estava lá, nem recebi orientações do tipo “Não ande ali”, “cuidado naquele lugar”, “essa hora não é seguro em tal bairro”. A criminalidade existe lá, sim, é claro. Como em qualquer outro país capitalista do mundo. Isso é fruto da desigualdade social. Mas, lá, não os índices de criminalidade se encontram em uma grande queda, fruto dessa participação popular. Os menos favorecidos estão participando da partilha dos bens sociais. Os jornais de lá não são como os daqui, que só trazem violência, crime e mortes.

Mesmo após sua morte, Chávez continua conhecido como uma figura polêmica, pela imprensa mundial. Como você avalia esse mito gerado em torno de sua pessoa e do seu legado sobre a América Latina, como o Socialismo do Século XXI?

-A morte de Hugo Chávez foi uma perda enorme para os movimentos sociais; os oprimidos viam nele um exemplo de libertação, um verdadeiro líder. A forma como ele encarava o imperialismo, denunciando suas mazelas, fortalecia a luta dos povos. E, olha que não é nem tão distante Caracas de Miami. Ele garantiu esse enfrentamento e cumpriu com seus compromissos com o povo venezuelano: saúde, educação, cultura, terra. Ele não só fez como também importou esse exemplo para outros países: Cristina Kshiner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correia no Equador, também o Peru e o Brasil, todos influenciados pela sua coragem e capacidade ideológica. Chávez fez coisas que nem mesmo o Jango fez no Brasil. Muito menos Lula. Acredito que o único presidente que fez algo tão grandioso quanto foi Salvador Allende, no Chile.

-E como vão ficar as coisas agora sem o Chávez?

Uma coisa é o Chávez dirigindo o país, outra coisa é outra direção. Imagine se fosse à direita. O Chávez tinha um profundo compromisso com o povo pobre, não com a classe média, coisa que vejo novo presidente, o Nicolás Maduro, mesmo ele sendo do mesmo partido de Hugo e etc. até agora elenão demonstrou nenhum passo para continuar essa transformação. Ele se quer estatizou uma companhia se quer. Chávez prometia em seu programa que iria “radicalizar” ainda mais. E acredito que ele faria isso sim, mesmo que tivesse de bater de frente com os interesses da burguesia. Seu programa, baseado no “Socialismo do século XXI”, apesar de ter certos desvios, estava sendo levado a cabo pelo seu iniciador. Ele iria “radicalizar” muito mais.