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Julho de 2013 ficará registrado nas páginas de nossa história. Mais uma vez, como as mobilizações ocorridas no final dos anos 80/começo de 90, (as diretas já! e o fora Collor), a juventude brasileira foi protagonista de mais uma agitação nacional, de forma consciente e politizada, saindo das “redes” para ganhar as ruas, contrastando com o comercial que apareceu durante a Copa das Confederações, convocando a população para irem às ruas, “A maior arquibancada do Brasil”, segundo o comercial. Pois é. Foram as ruas. Porém, diferente do que se esperava o uso do verbo “torcer” foi outro. Tão diferente que ofuscou aquilo que seria tido como “um momento de patriotismo, torcer pela Seleção”.
Que o brasileiro gosta de futebol e que é quase um técnico de futebol, isso todo mundo sabe. Porém, ao contrário do que houve por parte do governo durante a Copa de 70, onde os militares usaram a competição para encobrir o auge da repressão da ditadura brasileira, o discurso da 6° economia mundial não pegou. O gasto de verbas públicas para financiar a Copa mais cara da história (R$86 bilhões até agora, em comparação com os R$60 bilhões das copas do Japão/Coréia (2002), Alemanha (2006) e África do Sul (2010) somando as três.) segundo levantamento da Consultoria Legislativa do próprio Senado.
Não suportando as contradições de viver nessa 6° economia mundial e uma série desses absurdos, o povo soltou o grito que estava preso há tempos. E foi lindo. Tão lindo quanto à tentativa desesperada de criminalizar os primeiros atos, por parte da imprensa. Claro, quanto será que não foi pago pela Rede Globo, por exemplo, para cobrir o evento? Como sempre fazem, tentaram cortar o mal pela raiz, criminalizando os movimentos sociais. Mesmo assim, não deu: as passeatas multiplicaram-se, ofuscando as luxuosas luzes das arenas e a mídia teve que ceder a vaga aos gritos de protesto que, literalmente, abafaram os gritos de gol. Chegou ao ponto de, em algumas partidas, ter mais gente do lado de fora, protestando contra a Copa, do que dentro, assistindo ao jogo.
Tá na Rede?
Uma coisa que precisa ser registrada, é que, tais movimentos não brotaram do nada, apesar de espalharem seu caráter “espontâneo” pelos quatro ventos, a crescente onda de manifestações ao redor do mundo (Primavera Árabe, Ocupe Wall Street ou as greves gerais da Europa, etc.) foi fortalecida pelas redes sociais, um espaço amplo e, aparentemente, democrático. Sem intermédio de qualquer tipo de mídia impressa ou televisiva, geralmente controladas, e com a velocidade com que se trocam informações por meios das redes,a internet tornou-se ambiente propício para todo tipo de embate político e circulação de ideias. As mobilizações que sempre foram feitas pelo meio do “boca-boca” achou outro modo de se propagar. Se as mobilizações contra o aumento de passagem (históricos no país a fora) eram comuns, agora conseguiam atingir um número muito maior de adeptos, e, com um detalhe: uma velocidade e liberdade incalculáveis. O que começou com um ato isolado contra o aumento de passagem, reprimido brutalmente pela direita, ganhou dimensão nacional em minutos, horas, dias. Todas as reivindicações em um único espaço coletivo e aberto: as redes sociais. E assustou. Dessas mobilizações, algumas observações precisam ser feitas:
· O movimento não tem nada de “espontâneo” nem é fruto do que chamaram de “força das redes sociais”, coisa que se ventilou bastante, numa clara tentativa de desmerecer a histórica força das entidades estudantis, sindicatos, partidos ou movimentos sociais. Por traz dessa indignação está a maior crise do modo de produção capitalista da história, esse que já vem se arrastando desde2008, e que o governo chamou de “apenas uma Marolinha”;
· A aparente onda de mobilizações, surgidas nas redes sócias, também conhecidas como “ferramentas de comunicação”, não brotou do nada, como aquela rosa do Drummond: passeatas contra os aumentos nas passagens atingiram quase todas as capitais do país, a histórica greve das universidades federais de 2012, a maior dos últimos 20 anos, e as articulações em torno do Mensalão, o novo Código Florestal e os Leilões do Petróleo (ambos do PC do B) e todas as privatizações, apenas pavimentaram o caminho para um estouro nacional. Foram à pólvora para a bomba que se formou no país. “Antes tarde do que nunca!” disseram alguns. Na verdade esse grito nunca esteve oculto, apenas abafado por outros pequenos barulhos, que, como vimos, não duraram;
· A crítica que se fez em relação a sindicatos, partidos e entidades como a UNE, que protagonizou as Diretas Já! E o Fora Collor, surgiu de forma natural. A grande maioria dessas entidades estão atreladas, direta ou indiretamente, ao governo e seus acordos de interesses mútuos ou individuais, o que causou um claro distanciamento da grande população. A pergunta tinha que surgir: onde estava a UNE, a CUT ou os partidos ditos de “esquerda” nessa hora? PT, PC do B, PSB, todos jogando em um só time: O da desmobilização das grandes massas da população. E houve quem se assustasse. Ora, e a revolução Bolchevique de 17, não foi fruto de uma grande mobilização popular?
· Se tem algo de novo nesses movimentos é a chamada “cyber militância”, uma faca de dois gumes: o ativismo político das redes abre espaço pra todo tipo de pensamento ou ideologia, uma mais doida que a outra. Se, antes, todo mundo buscava um espaço para dar sua opinião, agora às portas foram escancaradas. Figuras com respaldo ou não, como o caso do Lobão ou o Roger Moreira, roqueiros da década de 80, conhecidos por falarem muita besteira, passaram a arrebanhar seguidores por meio do Facebook e do Tweeter. Houve quem passasse dos limites, como o jogador Ronaldo, embaixador da Copa da FIFA ou o “Rei” Pelé, um defendendo a Copa em detrimento da saúde pública e o outro que pediu para “esquecer as manifestações e torcer pela seleção”. Opiniões como essas e tantas outras são jogadas vinte e quatro horas nas milhares de casas, lanhouses, ou aparelhos portáteis.
Brasil Mostra tua Máscara?
A luta pela redução na tarifa de ônibus nas capitais, principalmente São Paulo e Rio, luta histórica, vanguardeada pelas entidades estudantis organizadas, andou junto com uma onda de apartidarismo Anarquista e oportunista. Ao mesmo tempo em que se via o chamado para se tomar as ruas, via-se um coral mínimo erguendo a bandeira do “apartidarismo”. E a mídia gostou. Jogou logo a população contra as organizações populares, independente de quem fosse manipulando novamente a opinião pública. Ali estava um exemplo claro da luta de classe: a direita, covardemente disfarçada, escondendo seus rostos, misturando sua tosca palavra de ordem no meio da multidão.
Puro oportunismo. Usar a massa indignada com alguns partidos políticos para jogar todos contra os movimentos sociais. Ao mesmo tempo em que se mostravam as balas de borracha e o gás lacrimogênio, a imprensa mostrava Anarquistas rasgando bandeiras, e se lançandocontra a população organizada de nossa sociedade. Algo tão antigo quanto o desejo de luta. E o mais interessante é que, nas redes sociais, as enquetes mostravam, em todo o país, a simpatia com relação aos partidos ou agremiações sociais. Quem melhor do que o próprio povo para saber lhe representar?
Quem gostou disso e se esbaldou foi à imprensa e seus teóricos, figuras como Arnaldo Jabour. “A luta de classe é coisa do passado”. “A população está rejeitando os partidos políticos”. “Marx se esqueceu de falar nisso”. A aparente moda era não ter partido. “Partido: coisa de antigamente”.
E a quem serve esse Apartidarismo?
Uma coisa é certa, histórica e científica: por traz das máscaras, rostos cobertos, e da covardia lançada pelo apartidarismo, se escondia a Anarquia, o revolucionarismo pequeno-burguês. A extrema direita escondida por traz de um símbolo alimentado pela própria mídia. Além de negar a organização social, pregavam uma luta sem nomes, ou bandeiras definidas. O “protestar por protestar”. Uma minoria perdida em suas próprias utopias, querendo substituir a tinta da rebeldia consequente, como foi o Fora Collor, para mascarar toda uma geração. E, de novo, não colou essa entente. Imagine se, todos aqueles mortos pela ditadura, alguns injustiçados até nossos dias, como o Honestino Guimarães, (presidente da UNE de 69 a 71, desaparecido político desde 74), e o jornalista Vladmir Herzog, tomados pela covardia, se escondessem sobre máscaras na hora da luta? Viveríamos num país sem nome? E o que dizer dos partidos que resistiram aos duros golpes das oligarquias, do coronelismo, das perseguições militares e sobreviveram, manchando de sangue a construção de nossa história?
Parece que a recente história de resistência de nossa população queria ser substituída por uma “onda nova”, na verdade, nem tão nova assim. Já em 1905, em plena efervescência dos movimentos sociais na Rússia, Lênin, principal liderança política da época, discorria em um artigo sobre o “Revolucionarismo Sem Partido”, deixando claro ser esse o “resultado de uma luta de classe”, o “produto de uma expressão do caráter pequeno-burguês dos que tentam, de certo modo, desarmar os trabalhadores com reivindicações que não destroem o capitalismo, antes, reforçam seu desenvolvimento na busca por vitórias temporárias e reformas vazias”.
Felizmente, mais uma vez, a intransigência cedeu lugar à democracia das massas mobilizadas, como do movimento “Passe Livre”, conseguiu se sobressair diante de toda manipulação da direita, seja ela mascarada nas ruas, ou nas redações dos grandes jornais e canais de televisão.
Dá pra ficar Em cima do Muro?
Para aqueles que pregavam a “dormência” e a “domesticidade” da população, ou até mesmo uma “crise nos movimentos sociais como um todo”, tomou um susto na manhã de 17 de julho de 2013. “O gigante acordou!” pregaram os reformistas. Acordou? Pelo contrário; ele nunca esteve dormindo. “A melhor maneira de educar um povo é fazê-lo entrar em revolução”, disse Chê. E ele entendia disso. O que se vê é a atualidade da teoria revolucionária, a necessidade de conhecer e se aprofundar no socialismo científico, e mergulhar na luta por conquistas reais, instruir o povo na luta não por apenas meras reformas pontuais.
“Não há neutralidade na luta de classe, assim como não é possível se abster de participar da troca de produtos ou da força de trabalho na sociedade capitalista”, assegurava Lênin, também acusado de “ser um partidário”. Essa realidade tentam os que lutam contra a organização popular, não notar. Dessa vez, mais uma vez, nota-se que esse é um caminho sem volta.